terça-feira, maio 29, 2007


Hoje ao acordar dei pela tua falta.
Olhei em volta, chamei o teu nome mas não tive resposta. Confesso o medo que me rompeu sob os pêlos das costas.
Não consegui pensar em nada.
Onde estavas? Porque partiste, deixando-me desamparado?
Enfiei o cão no carro e segui pela marginal até ao Guincho.
Apenas o instinto me guiava. Não conseguia pensar em nada.
As lágrimas confundiam-se com as gotas de chuva sobre o pára-brisas.
A velocidade era estonteantemente lenta. Quanto maior era o meu desespero, mais devagar o mundo passava sob os pneus do carro.
Quando cheguei os bombeiros já estavam no local. Fui barrado pela polícia.
Ao identificar-me levaram-me ao oficial de serviço no local.
O cão estava estranhamente sereno, meio apático. Não sei se dava pela tua ausência.
Calmamente o agente descreveu todos os teus passos, num relato sinistramente preciso.
A chuva entranhava-se até aos ossos, numa estranha dormência que não consigo explicar.
As suas palavras ecoavam-me na cabeça sem as conseguir assimilar.
Não era possível enviar uma equipa de salvamento ao fundo da falésia. A escarpa era instável e o mar estava demasiado agressivo para considerar a hipótese de utilizar mergulhadores.
Foi franco. Simples, directo. Não havia grande esperança.
A queda, por si, era fatal. Quaisquer restos mortais já haveriam sido eliminados pela raiva do oceano.
Não consegui dizer uma palavra.
Apesar de não existirem testemunhas também não subsistiam dúvidas.
Pura e simplesmente chegaste à beira da falésia e deixaste-te seguir.
Taciturno, regressei ao carro, forçando o mar de mirones que se acumulava no local.
O cão continua em silêncio.
Será possível que lhe fosses tão indiferente?
Regressei a casa e sentei-me no sofá.
Liguei a TV. Eras notícia. Não consegui perceber nada do que diziam.
Inglório fim.
Vou sentir para sempre a tua falta.
Eras o meu neurónio preferido!

Agora já conseguem ter uma ideia do que foram as noites dos últimos 18 meses...

Beijos & Abraços
Xuggo!

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