Dito e feito.
Resgatei da estante esse rasgo de insuflação divina em três actos de Oscar Wilde, que retrata de forma corrosiva a sociedade victoriana londrina do final de séc. XIX.
Gostaria de partilhar convosco alguns dos momentos que considero particularmente interessantes e o primeiro conclui uma conversa entre as duas personagens principais, Jack e Algernon.
Diz Jack: "Estou farto até aos olhos de frases inteligentes. Hoje todo o bicho-careta é inteligente. Não se vai a parte nenhuma que não se encontrem pessoas inteligentes. A coisa está a tornar-se um flagelo. Quem me dera que ainda houvesse pessoas estúpidas!"
É lamentável observar como a Humanidade se encarregou de lhe fazer a vontade. Não consigo compreender por que razão quanto mais evoluída se torna a sociedade maiores são as lacunas nas relações sociais. Longe vão os dias do Iluminismo, em que primavam as noções de natureza, sociedade, espírito crítico e progresso, o orgulho do conhecimento racional e científico. Mais distantes ainda os dias do Renascimento e do gosto pela beleza, pela intelectualidade, em que o homem buscava a compreensão e o domínio de si próprio e da natureza através das artes, e acreditava nas capacidades da razão humana para decifrar os enigmas do mundo.
Hoje alteramos o que demorou séculos a instituir de forma a justificarmos a nossa ignorância. Ao invés de procurarmos a instrução e a educação corrompemos os livros de história, os dicionários e as enciclopédias. Assinamos acordos ortográficos que reabilitam a nossa iliteracia. Fizemos Ctrl+Alt+Del ao bem falar e ao bem escrever. Ao bem pensar.
Como justificaríamos o "estado da nação" a Camões? A Nuno Gonçalves? A Pedro Nunes?
Para mim D. Afonso Henriques veio conquistar Lisboa aos Mouros pois preferiu bater-se com eles a enfrentar a fúria do avô, após ter batido em sua mãe. Para mim o Infante D. Henrique fez-se "ao mar oceano sem fim" pois a coroa de seu pai estava falida, o que aliás já D. Diniz havia previsto século e meio antes. E para mim o padroeiro de Lisboa será sempre S. Vicente.
"Engana-se a cada passo o sentido dos brutos com as semelhanças das coisas, tendo-as por verdadeiras porque não é ajudado de algum entendimento;(...)" [D. João de Castro (1500-1548)].
1 comentário:
LOOOL!!!
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