Chamava-se Candiota e, semanas antes do casamento marcado, disse para Laurita que iria abandoná-la.
- É outra? - perguntou Laurita, soerguendo-se na cama.
- Não - respondeu Candiota - É Outro.
Como não percebeu o «O» maíusculo, Laurita pensou que o Candiota, logo o Candiota, fosse homossexual. Mas Candiota apressou-se a corrigir o engano. O Outro era o Senhor.
- Fui chamado pelo Senhor.
Deus o convocara, e Candiota não poderia ter qualquer distracção na sua luta contra o Demónio. Muito menos a Laurita, com os seus mamilos tipo medalhão.
Laurita se resignou. Renunciou à missão que se impusera, a de reproduzir tantos Candiotas quanto pudesse para ajudar o Brasil, em favor da missão do Candiota, de combater o Demónio em todas as suas manifestações.
Anos depois, num baile de Carnaval, Laurita julgou identificar o Candiota num grupo de homens fantasiados de legionários romanos que circulavam pelo salão com mulheres seminuas sentadas sobre os ombros. Não pôde ter certeza que era o Candiota, porque ele era o único que segurava a mulher ao contrário e tinha a cara enterrada entre as suas coxas.
Talvez não fosse o Candiota. Talvez fosse o Candiota e ele estivesse numa missão secreta para o Senhor, em território inimigo. Talvez fosse o Candiota e ele tivesse mentido para ela. Talvez fosse o Candiota e... O homem depositou a mulher que tinha sobre os ombros em cima de uma mesa, e Laurita viu que era o Candiota. Gritou para ele:
- Candiota, e a sua luta contra o Demónio???
E então Candiota virou-se, avistou Laurita, abriu os braços dramaticamente e respondeu:
- O Demónio venceu!
in Actual, Expresso 8 Abril 2006
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