domingo, junho 08, 2008

Personae non gratae

Não é segredo a minha aversão ao futebol. Não que tenha algo contra, mas também não tenho grande coisa a favor. E não é nada de pessoal, também. É apenas uma questão de gosto.
Mas este ano é, essencialmente, uma questão de princípio.
Aquando o Europeu de 2004 ainda fui capaz de seguir o campeonato, torci e vibrei com a selecção nacional, festejei as vitórias e fiquei triste com a derradeira derrota.

Mas não este ano.

Sinto-me incomodado com a hipocrisia e permeabilidade de valores que a sociedade apresenta quando respeita ao futebol e, neste caso específico, à selecção nacional de futebol.
Porque quando se trata de futebol, vale tudo, tudo se perdoa e tudo se esquece.
De um momento para o outro, deixei de ouvir falar sobre as subidas escandalosas dos preços dos combustíveis. Recebi dúzias de emails com as mais variadas origens, apelando ao boicote ao abastecimento nos postos da Galp, esses grandes gatunos veja-se lá... Mas não consigo deixar de observar que a Galp é justamente um dos principais patrocinadores da Selecção Nacional no Euro 2008.
E ontem as vozes calaram-se. Já ninguém se lembra do preço da gasolina e já ninguém quer saber em que posto abastece o carro, porque o importante é chegar rápido a casa que é quase hora do jogo.
Mas a ironia vai mais longe. As vozes que se calaram erguem-se agora plenas de orgulho para cantar o hino e gritar pela equipa das quinas.
Eu sofro e revolto-me com os preços absurdos da gasolina e à muito que deixei de abastecer na Galp.
Não me levanto e não canto o hino nacional. Que não se confunda com desrespeito ou indiferença. Antes pelo contrário. É revolta. É protesto. Não posso invocar os feitos dos nossos egrégios avós para apoiar uma equipa de futebol enquanto deixo que me atirem areia aos olhos.
Não vou sentar-me à frente da TV durante 2 horas para assistir aos jogos, alimentando as audiências dos meios de comunicação social que tão bem souberam explorar e investigar factos, testemunhas e vítimas do processo Casa Pia (por ex.), mas que agora tão oportunamente falham na missão de justificar a cartelização dos preços dos combustíveis pela mesma petrolífera que lhes alimenta os cofres com os €uros milionários da publicidade.

E tudo isto assume uma proporção quase Pythonesca quando assistimos a todo um Portugal engalanado com bandeiras de Portugal, camisolas e cachecóis da selecção dotados da nada sarcástica etiqueta "Made in China". E nem me vou dar ao trabalho de elaborar sobre as implicações inerentes.... Quem quiser que perceba.

Assim, este ano a selecção não será bem vinda em minha casa. São personae non gratae.

E não me venham com merdas que não sou um verdadeiro "Tuga" porque não apoio a selecção e o futebol e onde é que está o meu orgulho nacional e outras patacoadas afins.

Chula-me exorbitâncias de impostos, taxas e sobretaxas um Estado que me penaliza por ser empresário, por querer contribuir para o crescimento económico do País, por gerar riqueza e postos de trabalho. Desculpem se não me deixo fascinar por esse universo mentecapto de indivíduos que ganham num ano o que eu não ganharei numa vida para andarem aos pontapés a uma bola.

Já o disse e volto a repetir, longe de mim querer ser o provedor da consciência alheia.
Cada um sabe de si. Quanto a mim, não vergo os meus princípios por nada nem por ninguém.
Muito menos por um jogo de bola.

Saudações democráticas.
Xuggo

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