quinta-feira, novembro 02, 2006

De boas intenções está o Parlamento cheio...

Esta semana ouvi na rádio, por diversas vezes, uma notícia que me deixou estupefacto.
O Governo pretende iniciar um projecto piloto de troca de seringas em duas prisões, no Norte e na Capital, à semelhança do que já há muito se practica nas farmácias do nosso país. Pretende esta iniciativa reduzir a galopante taxa de propagação de doenças infecto-contagiosas nos cárceres nacionais, relacionada principalmente com a utilização de seringas usadas por múltiplos parceiros no consumo de estupefacientes dentro dos referidos estabelecimentos.
Resolve-se então atacar o problema liberalizando-o, ao invés de o limitar e extinguir, um processo decerto aprendido no combate a grandes incêndios, onde é habitual o atear de fogos controlados por forma a conseguir que as duas frentes se extingam mutuamente.
Pois bem, meus senhores, façam o favor de notar que não andamos aqui a apagar fogos! Imediatamente se colocam várias questões, inerentes à própria proposta. A utilização de estupefacientes é criminosa e uma das suas eventuais consequências é justamente a privação da liberdade pessoal. No entanto, esta proposta imediatamente reconhece o consumo de drogas dentro dos estabelecimentos pertencentes ao Estado. O que, por sua vez, leva a outra incontornável questão, como entram os ditos estupefacientes dentro do circuito prisional? Pois questiono eu, não é suposto os estabelecimentos prisionais reabilitarem também os reclusos? Não é essa a obrigação do Estado, afinal? O encarceramento de um indivíduo é, sem dúvida, uma punição por actos contra a sociedade, mas também é obrigação dessa sociedade permitir uma segunda oportunidade a esses mesmos indivíduos, de forma a que estes possam regressar às suas vidas não só em liberdade, mas em produtividade! Se alguém é condenado a pena de prisão por consumo de estupefacientes, deve ser sujeito a programas de reabilitação para que possa gozar de prosperidade após o pagamento da sua dívida à sociedade. Que futuro tem um indivíduo que vê negada a sua liberdade por uso de drogas e cuja realidade continuará a ser o seu consumo dentro das prisões? Tenho muitas dúvidas que "veja a luz" ao conhecer a sua libertação e que dê um novo rumo à sua vida. Estatisticamente acabará por manter os seus hábitos, inevitavelmente regressando ao encarceramento.
O Estado tem a competência para resolver a questão no seu fundo. Extinguir o consumo de droga dentros dos estabelecimentos prisionais. É a única hipótese considerável. Impedir a entrada de estupefacientes nas prisões tem que ser o primeiro passo, inevitavelmente levando à limitação no consumo por parte dos reclusos. Se não entrar, não se pode consumir.
Estou farto de políticos pichas-moles que insistem em varrer a poeira para debaixo do tapete ao invés de agarrar o touro pelos cornos. Não estou minimamente interessado se é simples ou complexo de resolver, não foi para isso que passaram tantos anos a estudar e também não é para isso que lhes pago.
Essa palhaçada de andar a oferecer seringas é uma forma muito bonita de sacudir a água do capote. Mas não resolve o problema. Das duas, uma, ou liberalizam as drogas duras ou erradicam-nas do sistema prisional. Não há lugar para hipocrisias de conveniência.

Não percebo a preocupação de preencher cotas de género no Parlamento. Com tanto coninha de bigode e gravata que por lá assenta peida...
Façam-se homenzinhos, sff.

Beijos & Abraços
Xuggo

2 comentários:

cvarao disse...

Por falar em parlamento, viste-me no canal parlamento? Fui assistir à Assembleia da Republica a um Coloquio sobre a Promoção nas Regiões de Turismo e como não podia deixar de ser ainda fiz uma intervençãozinha no micro (não é todos os dias que se está na assembleia!)

Xuggo disse...

Não chérie, podias ter avisado q eu deixava a gravar...
Assim sempre tinha a oportunidade de ver o teu fabuloso pandeiro em ecrã panorâmico!

Beijos
X.